Antes de passar ao testemunho da
jovem (entre outros) quero deixar aqui uma frase
. «Quanto aos incidentes da manifestação pós (19horas) greve geral , Arménio Carlos disse:
«São lamentáveis os incidentes que ocorreram na Assembleia da República», disse apenas Arménio Carlos, preferindo não se adiantar no assunto...»
A.C. deu a manifestação por terminada às 19 horas. A "carneirada" ou será os "lindinhos" que o seguiram muito organizadinhos e admoestados tinham de dispersar a partir daquela hora, é isso?
- Pelos vistos a Arménio Carlos da CGTP deu-lhe muito jeito que cidadãos não sindicalistas ou sindicalizados, ou cidadãos não trabalhadores, desempregados involuntários, ou trabalhadores precários, idosos, reformados, pais com crianças, pessoas em cadeiras de rodas, jovens, etc. engrossassem os números da manifestação, ou seja, deu jeito para as estatísticas o n.º de pessoas presentes na greve sindical.
- A CGTP evitou falar dos incidentes da manif. e escreveu no seu site:
«Uma Greve Geral excepcional
Trabalhadores dos sectores dos transportes, portos, aeroportos,
comunicações e telecomunicações, administração pública central, regional
e local, indústria, comércio, serviços, minas, agricultura, e pescas
realizaram uma das maiores Greves Gerais dos últimos anos em Portugal,
complementada por 39 concentrações que contaram com a participação de
dezenas de milhares de trabalhadores.
A CGTP-IN a todos saúda e incentiva a prosseguir em unidade a luta pelos direitos e salários e por um Portugal com futuro.»
NEM UMA ÚNICA PALAVRA A TODOS OS QUE FORAM À MANIFESTAÇÃO E QUE NÃO
TRABALHAM (PORQUE NÃO OS DEIXAM) ou aos que trabalham mas como estão
recebendo subsidio de desemprego não passam de uns POC's; POD's ou
estagiários como os verdadeiros trabalhadores (com contrato a termo ou
sem termo) os conhecem ou intitulam.
- Arménio Santos lavou as mãos em relação aos injustos espancamentos e detenções abusivas por parte das forças de segurança, aliás ele até já está pedindo aos cidadãos para voltarem a manifestar-se no dia 27 de Novembro, PARA QUÊ???
- Seria bom saber de que lado estão as forças de segurança, será do lado da liberdade ou será do lado dos opressores???
- Para a próxima manifestação levem a polícia de intervenção que costuma ir aos jogos de futebol, pois parece que esses estão melhor preparados.
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Sara Didelet, uma das capturadas pela PSP, durante a manif. de 14 de Novembro de 2012
«Explica, na primeira pessoa o que se passou e como foi no Tribunal de Monsanto:
''
RELATO DA MANIFESTAÇÃO DE 14 DE NOVEMBRO
Ao contrário do que
muitos possam pensar eu não tenho qualquer sede de protagonismo ou
vontade de me expor, antes pelo contrário, há até alturas em que prefiro
honestamente passar despercebida, mas esta altura não é (porque não
pode ser) uma delas.
Decidi escrever este texto porque como cidadã
sinto-me não só no direito como na obrigação de relatar o que realmente
aconteceu na passada manifestação de 14 de Novembro na Assembleia da
República, e digo realmente porque infelizmente mais uma vez a
comunicação social preferiu manipular e ocultar a verdade, já para não
falar das nojentas e falsas declarações da PSP.
Cheguei a São Bento
acompanhada do meu namorado e dois amigos por volta das 16:00/16:30
quando o Arménio Carlos da CGTP ainda estava a discursar. Mantive-me lá
alguns instantes, tendo depois chegado outra amiga nossa. Entretanto
desloquei-me com uma amiga ao Mini Preço e qual não foi o meu espanto ao
ver quando voltámos que já as grades tinham sido derrubadas e já um
enorme alvoroço ocorria. Quem esteve presente não pode mentir e ser
hipócrita dizendo que não houve violência da parte dos manifestantes
pois é claro que houve, durante duas horas os polícias do corpo de
intervenção foram agredidos com pedras da calçada, balões de tinta,
garrafas de cerveja, etc. Foram agredidos sim, mas por uma MINÚSCULA
minoria dos que estavam presentes na manifestação! No meio de milhares
de pessoas talvez só umas 10 (e bem visíveis) arremessavam pedras e
outros objectos. Independentemente da agressão que sofreram NADA
justifica o que se passou em seguida… de repente, sem qualquer aviso
prévio, (embora a comunicação social e a PSP insistam que houve um aviso
feito através de megafone quem esteve presente na manifestação sabe tão
bem quanto eu que não se ouviu absolutamente nada e que não foi feito
qualquer esforço para que se ouvisse…) a polícia carregou sobre os
manifestantes com uma brutalidade sem medida e que eu jamais tinha visto
na vida. Como todos os outros comecei a correr e encostei-me à parede,
de seguida várias dezenas de pessoas (muitas de idade avançada) se
juntaram a mim e tentámos todos proteger-nos uns aos outros. A maioria
das pessoas chorava e gritava “PAREM! PAREM POR FAVOR! NÃO FIZEMOS
NADA!” e a polícia continuava a espancar toda a gente sem dó nem piedade
e ainda com mais força! Vi velhotes a serem espancados, sei de pessoas
que viram pais a serem espancados com os filhos pequenos ao colo, sei de
pessoas que viram a polícia a tentar espancar uma pessoa de cadeira de
rodas e vários manifestantes a rodeá-lo apanhando a pancada por ele para
o protegerem. No meio de tanta violência, confusão e multidão histérica
tentando sobreviver o melhor que sabia, consegui fugir com o meu
namorado mas acabámos por nos perder dos nossos amigos. Continuámos
sempre a fugir em direcção à Avenida Dom Carlos I, várias vezes parámos
pelo caminho pensando que a polícia já não vinha atrás de nós, e várias
vezes tivemos que fugir novamente pois a perseguição continuava.
Acabámos por encontrar novamente um dos nossos amigos e depois de vários
chamadas telefónicas soubemos que as duas meninas nossas amigas tinham
ficado retidas pela polícia, marcámos um ponto de encontro e passados
uns minutos elas lá conseguiram fugir e encontrámo-nos todos. Daí para a
frente o nosso único objectivo era conseguirmos perceber o que se
estava a passar mas acima de tudo assegurarmos também a nossa segurança,
mas rapidamente percebemos que tal não seria possível. A polícia pura e
simplesmente não parava de perseguir os manifestantes! Continuámos
sempre a fugir, parando pelo meio para curtos descansos pois a
perseguição continuava… já na Avenida 24 de Julho pensámos estar safos
mas que mera ilusão, aí ainda foi pior! A Polícia continuava atrás de
nós e de muitos outros mas desta vez disparando balas de borracha! Todos
corremos apavorados o máximo que podíamos até que de repente mesmo ao
pé da estação de comboios fomos interceptados por um grupo de polícias à
paisana que violentamente e chamando-nos todos os nomes e mais alguns
nos obrigaram a encostar às grades da estação enquanto mandavam ao chão e
agrediam outras pessoas. Lá ficámos sendo enxovalhados e revistados
vezes e vezes sem conta. Os rapazes foram todos algemados (uns com
algemas e outros com braçadeiras) e separados das raparigas e de seguida
fomos obrigados a sentarmo-nos todos no chão sem saber o que ia
acontecer pois os polícias só nos intimidavam e não respondiam a nada.
Devo frisar que devíamos ser cerca de 15/20 pessoas todos na sua maioria
jovens adultos (18/20 anos) e inclusive um rapazinho de 15 anos! Lá fui
posta dentro da carrinha com as minhas duas amigas, com o meu namorado e
com mais 6 jovens (um dos amigos que tinha ido connosco conseguiu
fugir), ou seja 9 pessoas dentro de uma carrinha com capacidade para 6.
Fomos dentro da carrinha (os rapazes todos algemados) sem nunca nos ter
sido fornecida qualquer informação sobre o lugar para onde íamos ou
sobre o que nos ia acontecer. Chegando ao local estivemos uns
intermináveis minutos todos fechados dentro da carrinha até que com
intervalos pelo meio nos foram tirando de lá um a um, até no final só
ficar eu. Fora da carrinha agarraram em mim sempre a gritarem “BAIXA A
CABEÇA! OLHA PARA O CHÃO CARALHO!”. Já dentro da “esquadra” (Tribunal de
Monsanto, o que por si só representa uma ilegalidade) fui escoltada por
uma mulher polícia até à casa de banho onde me obrigaram a despir
INTEGRALMENTE, onde me obrigaram a colocar-me de cócoras para verem se
tinha algo escondido na vagina ou no ânus, onde me obrigaram a tirar
todos os brincos, anéis, pulseiras, atacadores dos sapatos e os próprios
sapatos! Fui obrigada a dar o meu nome e data de nascimento. Ficaram
com todos os meus pertences (incluindo o telemóvel que antes me tinham
obrigado a desligar) e fui levada até à cela de meias num chão gelado!
Lá á minha espera estavam as minhas duas amigas e outras duas meninas
que também tinham sido detidas. O que se passou a seguir foram duas
horas e meia ridículas e sem qualquer sentido… foram-nos sempre negados
os telefonemas para casa, sempre que alguém falava nisso alegavam que
não sabiam de nada, nunca nos disseram porque estávamos ali, nunca nos
respondiam concretamente a nada, apenas mandavam bocas estúpidas!
Ficámos na cela duas horas e meia ao frio, sem comer, sem beber,
descalços e vá lá que nos deixaram ir à casa de banho embora às meninas
tenham dito “espero que tenham aproveitado pois só lá voltam amanhã”.
Passadas essas duas horas e meia fomos sendo chamados um a um para
recolhermos os nossos pertences e para serem feitas as identificações.
Foram preenchidas folhas em que nos eram pedidos todos os nossos dados
(BI, nome dos pais, morada, telemóvel, telefone fixo, profissão, etc. …)
tendo que assinar no final, caso não o fizéssemos não sairíamos dali.
Lá fomos embora, vendo-nos todos no meio do Monsanto muitos sem saberem
sequer como ir para casa.
Não fomos espancados na “esquadra” mas
fomos todos vítimas de humilhação e violência psicológica. Todos fomos
detidos injustamente sem nunca sequer termos sabido o porquê da
detenção. Fomos perseguidos como criminosos desde São Bento até ao Cais
do Sodré! Éramos todos jovens (como já frisei a média de idades devia
rondar os 18/20 anos) cujo único crime cometido foi termos participado
numa manifestação. Nem eu, nem nenhum dos meus amigos arremessámos
qualquer pedra, garrafa ou o que quer que fosse, não o fiz desta vez nem
em nenhuma outra manifestação. Fomos detidos e perseguidos injustamente
quando já nos dirigíamos ao Cais do Sodré para apanharmos um táxi para
casa!
Quem não esteve presente e não viveu tudo isto certamente
pensará que estou a exagerar ou a dramatizar, mas acreditem que não, as
coisas foram bem piores até do que aquilo que descrevo. A repressão
policial sentida ontem foi muito, muito grave e digna dos mais nojentos
regimes fascistas e ditatoriais! As pessoas estavam literalmente a ser
espancadas e perseguidas nas ruas e não tinham ninguém que as
protegesse! Eu vi velhos cobertos de sangue! Vi mulheres e homens aos
gritos de medo e desespero!
Há quem sem sequer ter estado presente
insista em “proteger” os polícias e dizer que agiram muito bem, que quem
lá estava só tinha era que apanhar, que eles coitadinhos foram
agredidos com pedras durante duas horas, que muito pacientes foram eles,
que nós os manifestantes somos todos uns arruaceiros. A essas pessoas
eu só vos digo: VÃO-SE LIXAR! Abram os olhos, abram a mente e vejam a
realidade que vos rodeia! Vão a manifestações e vejam por vocês próprios
o que realmente acontece! Sejam humanos, sejam solidários e deixem de
acreditar em tudo o que a comunicação social vos mostra! NADA justifica
tudo aquilo porque eu e milhares de pessoas passámos e isto não pode
ficar impune! Toda a gente tem o direito de se manifestar sem ser
agredido brutalmente ou perseguido! Fala-se num aviso feito pela Polícia
de Intervenção mas ninguém ouviu esse aviso! Um dos rapazes que foi
detido no Tribunal do Monsanto nem sequer tinha participado na
manifestação, ia apenas a passar na Avenida 24 de Julho no momento das
detenções! Acham isso bem? Acham correcto que dezenas de jovens
inocentes tenham sido detidos sem terem cometido NENHUM crime? Eu não
acho, acho vergonhoso, nojento e muito grave num país que se diz
democrático e de 1º mundo! Foram queimados caixotes do lixo e postos a
bloquear estradas? Sim foram, mas tudo como uma resposta de enorme ódio e
revolta em relação à acção desumana da polícia! Eu era a primeira a ser
contra o arremesso de pedras mas depois do que vi e vivi ontem digo com
a maior tristeza do mundo: quem age assim não é um ser humano, é uma
criatura maldosa e formatada e merecem o que lhes venha a acontecer
daqui para a frente. São cães raivosos, mercenários do Estado que vestem
a farda da ditadura em vez de protegerem o povo!
A todos os que
foram detidos comigo, principalmente quem veio comigo na carrinha e as
minhas companheiras de cela: OBRIGADA a todos! Obrigada pelo apoio, pela
união, pelo convívio e risos mesmo numa altura tão triste para todos,
pelas canções e assobios, pela partilha de opiniões e experiências e
acima de tudo por lutarem por um país melhor para todos! Obrigada também
a todos os que estavam à nossa espera à saída do Tribunal do Monsanto e
a todos os que se preocuparam connosco.
Estou viva, bem
fisicamente mas muito, muito triste e desiludida com tudo o que vivi …
ainda estou em estado de choque e a achar surrealmente grave tudo aquilo
que se passou. Peço desculpa se o texto não está o melhor possível mas é
muito complicado relatar com exactidão tão chocante experiência.
O
objectivo era incutir-nos medo e fazer-nos não frequentar mais
manifestações? Teve o efeito exactamente contrário: não me calam e
jamais me impedirão de lutar por aquilo em que acredito! A luta continua
sempre! VOLTAREMOS!''
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O que não falta por aí são testemunhos vou só transcrever mais uns quantos:
A PSP deteve cerca de
100 pessoas, hoje, após a manifestação em frente ao Parlamento. Os detidos
foram espalhados por vários estabelecimentos.
As detenções ocorreram
na zona do Cais do Sodré, de forma aleatória, havendo alguns que nem na
manifestação tinham participado. A esta hora, no Tribunal Criminal de Monsanto
cerca de 20 estão, aos poucos, a ser libertados. Isto depois de terem sido
privados de qualquer contacto com o exterior e depois de serem obrigados a
assinar um Termo de Identificação, sob coacção, com vários espaços em branco.
Actualização, às
01h12:
Em Monsanto estavam
cerca de 25. Não os consegui contar a todos nem falar com todos. Falei com os
suficientes para perceber que uma série de abusos foram praticados.
Detidos sem qualquer
acusação, impedidos de contactar com o exterior, impedidos de ir ao WC,
coagidos a assinar um termo de identificação com espaços em branco…
Na Boa Hora estiveram
mais uns quantos e, ao que parece, no Calvário também.
As informações
continuam a chegar. E já há, pelo menos, um vídeo das detenções no Cais do
Sodré.
Actualização à 01h25:
Testemunho do escritor
Mário de Carvalho, na sua página do Facebook:
Posso testemunhar que
no caso de um detido, já posto em liberdade, foi recusada à família por mais do
que uma vez , durante um período de três horas, a informação do local em que o
detido se encontrava. Agentes e comissária diziam que TINHAM ORDENS para não dar
essa informação. A prisão em local indeterminado configura-se como SEQUESTRO.
Lembra os procedimentos típicos das ditaduras da América Latina? Pois lembra.
Testemunho de Ana
Margarida de Carvalho (mãe de um dos detidos):
«A todos os amigos que
se interessaram e que ajudaram. Foi de facto um lindo serviço: hoje à noite, na
prisão de alta segurança de Monsanto, onde custumam enclausurar os barões da
droga e outros energúmenos estava uma vintena de adolescentes imberbes. Foram
detidos porque sim, sem qualquer acusação, por agentes à paisana que os
apanharam em vários pontos da cidade, alguns nem sequer tinham ido à
manifestação… Sem direito a telefonarem, nem a contactar com os advogados
(tinham ordens nesse sentido, diziam os srs agentes)… Havia pais que ainda não
sabiam em que estabelecimento prisional estavam os filhos. O joão está bem, com
algumas nódoas negras nos pulsos por causa das algemas, mas até suportou bem a
humilhação, os insultos, o permanecer descalço durante 3 horas numa cela gelada
de pedra (enfim, havia miúdos feridos, a pingar sangue, portanto…)» (OBSERVAÇÃO: ISTO CONFIGURA A PRÁTICA DOS CRIMES DE RAPTO E TORTURA POR PARTE DA POLÍCIA, IMITANDO AS PRÁTICAS DA PIDE-DGS DE SALAZAR E MARCELO CAETANO) «Quanto aos
outros, os tipos dos capuzes e das pedras e das claques ou lá o que eles são,
não sei… Não os vi por lá. O importante reter é que neste momento, ao abrigo do
alerta laranja, das ordens do MAI e da NATO, podemos ser presos por participar
numa manifestação. Claro que isto foi «só» uma manobra de intimidação, mas
resulta: para a próxima participarão menos, com certeza. Eu mesma, não sei…
terei que ir tomar conta dos meus filhos, escoltá-los até chegarem a casa, sãos
e salvos… Enfim, a palhaçada continua. obgd mais uma vez.
Em Monsanto, enquanto
iam libertando alguns dos detidos, em pequenos grupos, pude escutar a seguinte
resposta por parte de um agente de PSP a um detido que lhe perguntava como podia
saber por que motivo o haviam levado para ali: «O Comando amanhã abre às 9
horas. Vá lá e pergunte!»
Actualização à 01h45:
Testemunho de Rodrigo
Rivera, um dos jovens detidos esta noite:
Tivemos de assinar um
papel com espaços por preencher para poder sair, impediram o acesso à advogada.
Entretanto já conseguimos falar com ela (…).»