Vivemos num Estado de direito e numa democracia.
Um cidadão doente não é um criminoso.
Desde que a pandemia foi anunciada os cidadãos têm recebido
vários tipos de informações nacionais, europeias, mundiais, por parte de
líderes que têm tido ao longo do tempo várias perspectivas quanto ao tema. No
inicio alguns desvalorizaram, depois afirmaram que a contaminação de grupo
seria a melhor forma de encarar o desafio, por fim, começaram a ver que a morte
pairava no mundo, que muitas vidas estavam sendo ceifadas e por fim
actualmente, após o desconfinamento começaram alguns especialistas a dizer que
teríamos todos de conviver com o vírus.
Todos os dias novas interpretações surgiram, todos os dias a
morte tem entrado pelas nossas casas adentro, via televisão e não só.
As crianças, os jovens e famílias ficaram confinados em casa,
mesmo sem estarem doentes. E assim as jovens famílias, ao longo do período de
estado de emergência até ao estado de calamidade, foram arranjando soluções, ou
não, para ocupar os filhos, que deixaram de ter aulas presenciais, que deixaram
de brincar uns com os outros, que deixaram de namorar, enfim que deixaram de
fazer aquilo que os jovens (e não só) fazem que é: viver a vida, respirar a
vida, respirar a liberdade de ser e de existir como ser humano, como ser
social.
Quando os cidadãos e famílias ouviram a palavra desconfinamento
saíram para a rua, para a praia, para o campo, viajaram para uns breves dias de
relaxamento, uns dias para se sentirem livres, respirarem, conviverem,
comunicarem pessoalmente, sentiram como se lhes tivessem aberto as portas da
cela que um ser invisível e terrorista lhes obrigou a fechar.
Tem sido lamentável o que ultimamente temos visto, lido e
ouvido em praça pública, nos mass média, nas redes sociais, relativamente à
forma como têm sido tratadas algumas famílias e cidadãos, contaminados ou não pelo
novo Coronavírus, que optaram por marcar encontros, convívios, festas mal
ouviram a palavra desconfinamento,
feriado de Santo António, etc. O que é obvio depois de deixarem entrar
tanto lixo emocional, tanto medo, pela casa adentro, via mass média e assim as
pessoas ficaram confusas, sem saber em que opinião confiar e mal viram uma
fresta aberta para saírem “aqui vai disto bom petisco”
A doença é um assunto que pertence ao foro privado, na
doença o assunto é entre o doente e o seu médico assistente.
Todas estas trapalhadas, pessoas em fila à porta do tribunal,
porque foram a uma festa e algumas estavam contaminadas.
Depois ouvimos:
- ah e haviam crianças;
- que pais inconscientes;
- que clube/associação desportivo(a) é esse(a) que deixa
entrar tanta gente?
Dizem os cidadãos comuns e dizem as pessoas presidentes de
câmara e diz a ministra da saúde? e diz a DGS?
As exigências para a criminalização, para a acusação, para a
penalização começam a crescer e as pessoas gritam: ISTO NÃO PODE FICAR ASSIM;
AH QUE CONDENAR PARA SERVIREM DE EXEMPLO, para mais ninguém repetir hediondo CRIME.
Tudo isto elevou “abutres” no ar, afinal “enquanto uns
choram outros vendem lenços” e assim tanta tinta se tem gasto, a do lápis azul
da censura, a dos jornais, a das revistas. Os doentes e os não doentes por
COVID, que se atreveram ir-se divertir, foram
servidos de bandeja a muita audiência, a das pessoas que gostam de apedrejar,
gostam de espalhar veneno, pois já não lhes chega a lavagem cerebral das
novelas, dos jornais, dos comentadores escolhidos a dedo e como o futebol anda
a meio gás, mostram-se pessoas em filas para serem condenadas pelo crime de
estarem doentes, ou não, e para o empresário que abriu o salão de batizados e
festas uma condenação também.
Está meio mundo apanhado “dos cornos”, deixaram de pensar,
centram-se no problema em vez de o analisar como um desafio, bloquearam,
entraram em curto-circuito cerebral.
Esta mesquinhez e estupidificação, a sede de vingança e
punição, estes sentimentos negativos vigam e elevam a ditadura. Estão tão
cegos, não entendem que quando apontam um dedo a alguém estão a apontar três
para vocês próprios e um para Deus? Que está a ver esta medra toda? Este
chavascal?
O que acho mais preocupante é o facto dos governantes, das
pessoas importantes, os líderes deste nosso país, o país mais antigo da Europa que
já tem idade para ter juízo, irem na onda popular. O povo, aquele que ainda não
saiu da idade média mental ou da idade da pedra, quer penalização, bodes
expiatórios, exemplares penalizados e criminalizados? O governo, os presidentes
de câmara, etc. recolhem as pedras, que cidadãos descerebrados lhes entregam, e
“passam a batata quente” ao poder judicial, para que os exemplares fiquem em
filas de espera, mascarados como bandidos que acabaram de cometer um crime, todos
alinhadinhos como animais na direcção do matadouro.
Pergunto:
Cada cidadão que foi diagnosticado com o novo coronavirus,
por mero acaso, SÓ POR MERO ACASO DO DESTINO, foi-lhe apresentado algum “Termo
de responsabilidade” firmado pl’O médico assistente do SNS e pl’O doente, no
qual, constasse que o doente foi esclarecido acerca da doença, dos cuidados a
ter, dos procedimentos a tomar em caso de não necessidade de internamento e que
tratamento a fazer, tal como as
consequências legais do não cumprimento da prescrição médica anexa ao termo de
responsabilidade?
Quantos termos ou notas de responsabilidade foram passadas e
firmadas pelo SNS e os doentes por COVID-19, neste país chamado PORTUGAL, desde
o início da pandemia?